quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Mário de Andrade - Serra do Rola-Moça

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A SERRA DO ROLA-MOÇA 
Mário de Andrade 


A Serra do Rola-Moça 
Não tinha esse nome não...


Eles eram do outro lado, 
vieram na vila casar. 
E atravessaram a serra, 
o noivo com a noiva dele 
cada qual no seu cavalo.
Antes que chegasse a noite 
se lembraram de voltar. 


Disseram adeus pra todos 
e se puserem de novo 
pelos atalhos da serra 
cada qual no seu cavalo.
Os dois estavam felizes, 
na altura tudo era paz. 
Pelos caminhos estreitos 
ele na frente, ela atrás. 
E riam. Como eles riam! 
Riam até sem razão.


A Serra do Rola-Moça 
não tinha esse nome não.
As tribos rubras da tarde 
rapidamente fugiam 
e apressadas se escondiam 
lá embaixo nos socavões... 
Temendo a noite que vinha.


Porém os dois continuavam 
cada qual no seu cavalo, 
e riam. Como eles riam! 
E os risos também casavam 
com as risadas dos cascalhos, 
que pulando levianinhos 
Da vereda se soltavam, 
Buscando o despenhadeiro.


Ali, Fortuna inviolável! 
O casco pisara em falso. 
Dão noiva e cavalo um salto 
precipitados no abismo. 
Nem o baque se escutou. 
Faz um silêncio de morte, 
na altura tudo era paz ... 
Chicoteado o seu cavalo, 
no vão do despenhadeiro 
o noivo se despenhou.


E a Serra do Rola-Moça 
Rola-Moça se chamou. 


ANDRADE, Mário. Mário de Andrade: literatura comentada. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1990.

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