quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Olavo Bilac - A primavera

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A PRIMAVERA
Olavo Bilac

Coro das quatro estações:
Cantemos! Fora a tristeza !
Saudemos a luz do dia:
Saudemos a Natureza !
Já nos voltou a alegria !

A Primavera:
Eu sou a Primavera!
Está limpa a atmosfera,
E o sol brilha sem véu!
Todos os passarinhos
Já saem dos seus ninhos,
Voando pelo céu.
Há risos na cascata,
Nos lagos e na mata,
Na serra e no vergel:
Andam os beija-flores
Pousando sobre as flores,
Sugando-lhes o mel.
Dou vida aos verdes ramos,
Dou voz aos gaturamos
E paz aos corações;
Cubro as paredes de hera;
Eu sou a Primavera,
A flor das estações !

Coro das quatro estações:
Cantemos! Fora a tristeza !
Saudemos a luz do dia:
Saudemos a Natureza !
Já nos voltou a alegria !
BILAC, Olavo. Poesias infantis. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1949.  

sábado, 26 de maio de 2012

Débora Siqueira Bueno - A minha filha junto de mim

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A MINHA FILHA JUNTO DE MIM
Débora Siqueira Bueno

A minha filha junto de mim lê os meus sonhos.
Tento evitá-lo –
aquilo não é coisa pra criança.
Insiste.
– Credo, mãe! Isso não é sonho, é pesadelo!
Senta-se e escreve em meu lugar.

A minha filha junto de mim me junta a mim,
a desjuntada, me aconchega
e nina o desânimo em que me encontro.
Espanta o siso e abre o riso e fecha o livro
de onde brotam tais palavras mal escritas.

A minha filha junto de mim me traz de volta
ao mundo vivo em que pertenço a alguém
que me pertence e me
Escreve – filha –
palavra forte.
Inscreve – mãe –
me faz alguém.

A minha filha junto de mim sonha seus sonhos
E abre o livro vivo que há em mim.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

João Cabral de Melo Neto - O mar e o canavial

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O MAR E O CANAVIAL
João Cabral de Melo Neto

O que o mar sim aprende do canavial:
a elocução horizontal de seu verso;
a geórgica de cordel, ininterrupta,
narrada em voz e silêncio paralelos.

O que o mar não aprende do canavial:
a veemência passional da preamar;
a mão-de-pilão das ondas na areia,
moída e miúda, pilada do que pilar.

O que o canavial sim aprende do mar:
o avançar em linha rasteira da onda;
o espraiar-se minucioso, de líquido,
alagando cova a cova onde se alonga.

O que o canavial não aprende do mar:
o desmedido do derramar-se da cana;
o comedimento do latifúndio do mar,
que menos lastradamente se derrama.